Biografia
Audrey Kathleen Hepburn-Ruston (Bruxelas, 4 de maio de 1929 — Tolochenaz, Vaud, 20 de janeiro de 1993) foi uma premiada atriz e humanitária britânica. É considerada um ícone de estilo e, segundo o American Film Institute, a terceira maior lenda feminina do cinema, atrás apenas de Katharine Hepburn e Bette Davis.
Hepburn estreiou diversos filmes, entre eles Bonequinha de Luxo e A Princesa e o Plebeu, filme que lhe rendeu o Óscar de Melhor Atriz, além de indicações ao Globo de Ouro, ao BAFTA e ao NYFCC Award. Foi a quinta artista, e a terceira mulher, a conseguir ganhar as quatro principais premiações do entretenimento norte-americano, o EGOT – acrônimo de Emmy, Grammy, Óscar e Tony.
Em 8 de fevereiro de 1960, ganhou uma estrela no Passeio da Fama de Hollywood, em homenagem à sua dedicação e contribuição para o cinema mundial. A sua morte deu-se em virtude de um cancro de apêndice, em 20 de janeiro de 1993, na cidade de Tolochenaz, na Suíça.
Audrey Hepburn em 1956
Era a filha única de Joseph Anthony Hepburn-Ruston (um banqueiro britânico-irlandês) e Ella van Heemstra Hepburn-Ruston (uma baronesa holandesa descendente de reis ingleses e franceses). Tinha dois meio-irmãos, Alexander van Heemstra Ufford e Ian Quarles van Heemstra Ufford, do primeiro casamento da sua mãe com um nobre holandês.
Os pais de Audrey divorciaram-se quando ela tinha 9 anos. Para manter a jovem afastada das discussões familiares, a sua mãe enviou-a para um internato na Inglaterra, onde ela se apaixonou pela dança, aprendendo balé. Todavia, em 1939 arrebenta a Segunda Guerra Mundial, e a Inglaterra declarou guerra à Alemanha. A mãe de Audrey decidiu então levá-la para viver na Holanda, país neutro que – ela imaginava – não seria invadido pelos alemães. Os protestos de Audrey não foram suficientes: a menina queria continuar na Inglaterra, mas a mãe temia que cidade de Londres fosse bombardeada. Além disso, as viagens estavam escassas, e a baronesa receava ficar muito tempo sem ver a filha.
A situação na Holanda foi bem diferente da planeada. Com a invasão nazista, a vida da família foi tomada por uma série de privações: Audrey teve muitas vezes de comer folhas de tulipa para sobreviver. Envolvida com a Resistência, muitos de seus parentes foram mortos vítimas da guerra. Ela participaria de espetáculos clandestinos de balé para angariar fundos e levaria mensagens secretas em suas sapatilhas. Anos mais tarde recusaria o papel de Anne Frank no cinema.
Com o fim da Guerra, Audrey e sua mãe mudaram-se para a Inglaterra, onde ingressou na prestigiada escola de balé Marie Rambert. Mas sua professora foi categórica: ela era alta demais e não tinha talento suficiente para tornar-se uma bailarina prima. Desiludida, passou a trabalhar como corista e modelo fotográfica para garantir o sustento da família.
Foi neste ponto que decidiu investir noutra área: a atuação. Investindo no teatro, sua estreia foi no documentário Dutch in Seven Lessons, seguido por uma série de pequenos filmes. Em 1952, viajou para a França para a gravação de Montercarlo Baby, e foi vista no saguão do hotel em que estava hospedada com o elenco pela escritora Collette. Naquele momento, Collette trabalhava com a montagem para a Broadway da peça Gigi, cujo papel-título ainda não tinha intérprete. Encantada com Audrey, decidiu que ela seria a sua Gigi.
As críticas para Gigi não foram de todo favoráveis, mas era opinião geral que aquela desconhecida que interpretava o papel principal era destinada ao sucesso.
Pouco tempo após o encontro com Collette, Audrey participou numa audição para o filme A Princesa e o Plebeu. Encantado com a atriz, o diretor William Wyler escalou-a para viver a Princesa Ann, dividindo a cena com Gregory Peck, que também se surpreendeu com o talento da companheira.
O sucesso da produção foi também o de Audrey. Hollywood amou-a imediatamente e a agraciou com o Óscar de Melhor Atriz.
Três dias após a cerimónia do Óscar, recebeu o Tony pela sua atuação em Ondine. Em 1953 a peça Sabrina Fair de Samuel A. Taylor ainda estava a ser montada na Broadway quando os executivos da Paramount Pictures perceberam que sua história era perfeita para ser utilizada no novo filme da nova estrela do estúdio; a vencedora do último Óscar Audrey Hepburn. Para adaptar o filme para as telas a Paramount convidou o também premiado Billy Wilder, que já havia vencido o Óscar em 1945 pelo seu ótimo trabalho em Farrapo Humano e que vinha de consecutivos sucessos como Sunset Boulevard, Ace in the Hole, e Stalag 17. Em parceria com o autor da peça Samuel Taylor e com o ótimo roteirista Ernest Lehman, Wilder passou a reescrever Sabrina, o filme que fora o maior sucesso do estúdio em 1954. O filme rendeu à atriz a sua segunda indicação ao Óscar. A princípio, para estreiar o romance ao lado de Hepburn, haviam sido convidados Cary Grant e William Holden, no entanto pouco antes do início das filmagens Grant desligou-se do projeto sendo substituído pelo renomado Humphrey Bogart. Durante as filmagens, apaixonou-se por William Holden e começaram a namorar. Sempre tímida, ele foi sua primeira paixão. Após alguns meses, tornaram-se noivos. Audrey temia ser mãe solteira, e pedia a William que apressasse o casamento, pois já estavam noivos e ela poderia engravidar a qualquer momento, mas a jovem decidiu terminar a relação quando William revelou que ainda era legalmente casado, por mais que estivesse separado, e por mais que mantivessem relações, ele não a engravidaria, já que fez uma vasectomia. Audrey ficou desolada. Tinham planos de casar, e seu grande sonho era ser mãe. Ela agradeceu pela honestidade e sinceridade dele, de ter contado toda a verdade antes do possível casamento. Ele a compreendeu e tornaram-se amigos.
A peça Ondine fora uma sugestão de Mel Ferrer, por quem se apaixonaria durante a temporada na Broadway. Os dois foram apresentados por Gregory Peck numa festa em 1954. Com poucos meses juntos, decidiram casar-se em setembro daquele ano. O filho de Audrey e Mel, Sean, nasceu em 1960. Pela vontade do casal, teriam um filho logo após o matrimónio, mas Audrey não estava a conseguir engravidar. Após diversos tratamentos, chegou a engravidar quatro vezes, mas em todas as gestações sofreu aborto espontâneo. A atriz queria mais do que tudo ser mãe, e por muitos anos sofreu com depressão e ansiedade. Para animar a esposa, Mel sugeria que ela trabalhasse com entusiasmo para esquecer os problemas, já que a jovem amava o que fazia. O filho do casal nasceu quando os médicos recomendaram que ela parasse de tentar engravidar, pois corria riscos de novos abortos, onde arriscaria sua própria vida. Na sua última tentativa, conseguiu dar à luz um menino saudável, a sua maior conquista. Ela e o marido gravaram juntos Guerra e Paz, e ela estrelaria três comédias-românticas – Cinderela em Paris, Amor na Tarde e A Flor que não morreu –, um drama – Uma cruz a beira do abismo, que lhe rendeu a terceira indicação ao Óscar e afastou qualquer dúvida sobre seu talento, – e um faroeste – O passado não perdoa.
Após um ano e meio de licença-maternidade, voltou a Hollywood para estreiar Bonequinha de Luxo, num papel que a transformaria num ícone e pelo qual seria lembrada para sempre. Por viver a acompanhante de luxo Holly Golightly ela receberia sua quarta indicação ao Oscar. Pouco tempo depois filmou Infâmia, Charada e Quando Paris alucina.
Em 1963, recebeu o papel principal do musical My fair lady, o da vendedora de flores Eliza Doolittle. Entretanto, a voz de Audrey não foi utilizada durante as canções, sendo dublada. Isso deixou a atriz extremamente aborrecida e fez com que abandonasse as gravações por um dia. Audrey não foi indicada ao Oscar por esse papel – fato que até hoje é considerado uma injustiça – devido à dublagem e também pela não-escolha de Julie Andrews (que interpretara Eliza na Broadway) para o papel. Andrews ganharia o Oscar daquele ano por seu papel em Mary Poppins.
Em seguida gravaria Como roubar um milhão de dólares, Um caminho para dois e Um clarão nas trevas, este último dirigido por seu esposo numa falha tentativa de salvar o seu casamento. Audrey Hepburn e Mel Ferrer divorciaram-se em dezembro de 1968. As constantes crises de ciúmes do marido, queria que ela deixasse a carreira para cuidar da família, fizeram-na sentir-se presa e infeliz. Após discussões diárias por ele negar-se a dar a separação, Audrey saiu de casa com o filho. Após um processo na justiça, o divórcio saiu poucos meses depois.
Ela decidiu parar de atuar e passou a viajar com as amigas para se distrair. Numa dessas viagens, se apaixonou perdidamente por um médico, com quem se casaria apenas seis semanas após o divórcio. Ele era o psiquiatra italiano Andrea Dotti, que Audrey conheceu em um iate. Mesmo com poucos mes juntos, decidiram oficializar a união. Sem esperar, Audrey foi pega de surpresa com uma nova gestação, ficando ficando muito apreensiva, mas correra tudo bem. Audrey deu à luz o seu segundo filho, Luca, em 1970. O casal morou por um ano em Roma, para em seguida a atriz ir viver na Suíça com o marido e os dois filhos.
Decidiria voltar a atuar em 1976, estrelando Robin e Marian. Três anos mais tarde voltaria à cena em A herdeira.
Após descobrir uma traição do marido, ficou muito abalada e saiu de casa com os filhos em 1980. Após longo processo na justiça, por ele se negar a dar o divórcio, querer a guarda do filho e formalizar a partilha dos bens, o processo só foi foi concluído em 1982, favorável a Audrey, que ficou com a maior parte da fortuna e com a guarda do filho. A atriz decidiu não mais casar-se. Ia se dedicar a carreira e aos filhos, e só se envolveria com alguém por um compromisso sério de namoro, não matrimónio. Neste período, gravou Muito riso e muito alegria, e no fim das filmagens conheceu Robert Wolders. Tornaram-se namorados e ficaram noivos. Estiveram juntos por nove anos, até a morte de Audrey.
Em 1987 deu início ao seu mais importante trabalho: o de Embaixatriz da UNICEF. Audrey, tendo sido vítima da guerra, sentiu-se em débito com a organização, pois foi o “United Nations Relief and Rehabitation Administration” (que deu origem à UNICEF) que chegou com comida e suprimentos após o término da Segunda Guerra Mundial, salvando sua vida. Ela passaria o ano de 1988 viajando, viagens estas que foram facilitadas por seu domínio de línguas (Audrey falava fluentemente francês, italiano, inglês, neerlandês e espanhol).[9]
Em 1989 faria uma participação especial como um anjo em Além da eternidade. Este seria seu último filme. Audrey passaria seus últimos anos em incansáveis missões pela Unicef, visitando países, dando palestras e promovendo concertos com causas.
Em 1992 foi-lhe diagnosticado um cancro no apêndice, que se espalhou para o cólon intestinal. Iniciou o tratamento, mas após pouco mais de um ano, não resistiu e faleceu às 7 horas da noite de 20 de janeiro de 1993, aos 63 anos. Encontra-se sepultada no cemitério de Tolochenaz, Vaud na Suíça.
No ano de 2000 foi lançado o filme The Audrey Hepburn Story, uma homenagem a Audrey que gerou críticas pela comunicação social e pelas fãs, devido à escolha de Jennifer Love Hewitt para o papel principal.
In wikipédia, adaptado
Amores e Desamores
Custa acreditar que uma das mulheres mais adoradas pelo público durante gerações tivesse tanto azar no amor. Audrey Hepburn, heroína romântica na tela e cuja morte completa 20 anos hoje, teve uma vida cheia de carências afetivas que só foi suprida como embaixadora do Unicef.
Cinco indicações ao Óscar… e cinco abortos. Duas estatuetas… e dois casamentos fracassados. Audrey Hepburn, provavelmente o ícone do cinema clássico mais lembrado junto com Marilyn Monroe, cativou na audiência algo que ela sentiu saudades desde menina: o carinho e a adoração.
Musa da Givenchy na moda, de Stanley Donen, Billy Wilder, George Cukor e Blake Edwards no cinema… mas rejeitada por Albert Finney e Ben Gazzara na vida real. Sua beleza era mais etérea que sexy e sem a aura do glamour de filmes como A Princesa e o Plebeu e Bonequinha de Luxo, Audrey se sentia menor.
“Acho que o sexo é supervalorizado. Não tenho “sex appeal” e sei disso. De fato, prefiro ter um aspecto curioso. Meus dentes são curiosos e não tenho os atributos que deveria ter uma deusa do cinema”, falava sobre si mesma.
Nos registros oficiais, dois casamentos: um com Mel Ferrer, notavelmente maior que ela e de um físico pouco felizardo, e outro com o aristocrata e neuropsiquiatra italiano Andrea Dotti. Com o primeiro substituiu o verdadeiro amor pela admiração profissional. Com o segundo, pela “dolce vita”.
Com eles teve seus dois filhos, Sean e Luca, outra de suas obsessões, pois por esterilidade tinha descartado alguns de seus amantes mais apaixonados, como William Holden e Robert Anderson.
Conheceu Ferrer em uma festa na casa de Gregory Peck e ele lhe ofereceu um papel em Ondine, uma peça na Broadway, e, como dizem, uma coisa levou à outra.
Em 1954 já estavam se casando na Suíça em grande estilo e Audrey tentou combinar sua emergente carreira e seu novo casamento, até o ponto de rejeitar Gigi para rodar Cinderela em Paris na capital francesa, onde Ferrer trabalhava com Jean Renoir em”Elena et les Hommes.
Em pouco tempo, Ferrer foi tomado de ciúmes pelo sucesso de sua esposa e o divórcio chegaria em 1968, pouco após seu último êxito, Um Clarão nas Trevas, produzido por Ferrer.
“Não posso explicar a desilusão que senti. Sabia que era difícil estar casado com uma estrela mundial. Mel sofreu muito. Mas, acredite, eu pus minha carreira em segundo lugar”, disse a atriz na época.
Porém, um ano mais tarde, já estava se casando com Dotti, um dos solteiros mais cobiçados de sua época. Ela tinha 40 anos e ele 31, invertendo os papéis de seu casamento anterior, e foi Audrey que enlouqueceu de ciúmes ao ver os paparazzi fotografarem seu “latin lover” com outras mulheres.
Além disso, vários abortos a levaram a um estado de depressão, embora finalmente tenha conseguido dar à luz a seu segundo filho, Luca. O divórcio aconteceu apenas em 1982.
Mas, nesse meio tempo, a atriz continuou buscando o amor nos braços de seus companheiros de filmagem. “Chegou um momento em que sua vida se transformou em algo triste e patético e alcançou um grau de desespero no qual chegou a permitir que lhe tratassem mal”, declarou Donald Spoto, ao apresentar sua biografia da atriz em 2006, a respeito da relação de Audrey com Ben Gazzara.
Gazzara lembrou assim seu romance em 1970. “Ela era infeliz com seu casamento e eu também e nos consolamos, mas era impossível. Ela tinha sua vida na Europa e eu em Los Angeles. A vida ficou entre nós”, declarou o ator, que também ressaltou a insegurança de Hepburn como atriz.
Esse relacionamento seguiu o padrão de outro ocorrido poucos anos antes, quando ainda era casada com Mel Ferrer, durante seu romance extraconjugal mais famoso, com Albert Finney durante a filmagem de Um Caminho para Dois. Porém, o ator não pôde com tanta intensidade.
As carências afetivas tinham nascido já na infância. “Nasci com uma enorme necessidade de receber afeto e uma terrível necessidade de dá-lo”, dizia a atriz.
Abandonada por seu pai e com uma mãe incapaz de transmitir esse carinho, forjou uma insegurança que a tornou hidrofóbica e lhe fez chorar quando viu que não tinham respeitado sua voz nas canções de My Fair Lady.
A delicadeza deslumbrante de Audrey Hepburn na tela tinha um revés preocupante na vida real. E assim, marcada pela filmagem de Uma cruz à beira do abismo, acabou se entregando às causas humanitárias.
“No final encontrou o sentido de sua vida em seu trabalho com a Unicef. Mas foi praticamente por eliminação”, resumiu Donald Spoto.
Missões na Somália e El Salvador como Embaixadora de Boa Vontade do Unicef, mas nas condições de uma voluntária a mais, lhe garantiriam um Óscar honorífico. E assim, faleceu, sentimentalmente realizada, finalmente, no dia 20 de janeiro de 1993 aos 63 anos.
“Tive momentos muito difíceis em minha vida. Mas fossem quais fossem, os superei e sempre encontrei uma recompensa no final”, comentou a atriz.